sexta-feira, maio 01, 2009

Arre Burrinho - Actividade

As palavras são como burrinhos carregadinhos. A palavra casa está carregadinha de pais, carregadinha de leite com chocolate, carregadinha de brinquedos, carregadinha de pasta de dentes, carregadinha de primos. A palavra escola está carregadinha de corridas no pátio, carregadinha de aprender, carregadinha de amigos, carregadinha de livros. Acontece que às vezes as palavras ficam cansadas de tão carregadinhas que estão, e chamam os poetas, para que as aliviem da sua carga. Então os poetas dizem: - Deixa a tua carga, agora vais ser só palavra. E chamam as palavras primas para uma brincadeira que se chama poesia que rima: A palavra João chama a palavra prima papão, que chama a palavra prima esfregão, que chama a palavra prima avião; a palavra Ana chama a palavra prima banana, que chama a palavra prima cabana, que chama a palavra prima Oriana. Mas por vezes os poetas não chamam as palavras primas, apenas as aliviam do seu peso. E dizem: - agora, a palavra escola é apenas uma sala repleta de balões e os balões estão cheios de coisas para aprender.

«Na primeira infância a poesia é nossa irmã e dá-nos a mão naturalmente. A infância é uma estação poética por excelência, um estado de graça mesmo porque cada infância recria a infância do mundo. Digo poesia mas não me refiro ao género literário, a poesia escrita, e onde a poesia frequentemente apenas está enquanto resíduo, mas à sua essência que é a génese de todos os géneros literários e mesmo de todas as actividades dignas de serem consideradas humanas.» Álvaro Magalhães (1999) Malasartes, Porto

O desenvolvimento da sensibilidade para o texto poético encontra-se ligada ao desenvolvimento da criatividade, da expressão e da compreensão da linguagem enquanto representação da experiência humana. Pela sua estrutura, ritmo e musicalidade, a poesia torna-se atractiva para as crianças, capaz de despertar leitores de diversas faixas etárias. É esta mesma criança que ao brincar com múltiplos significados, materializa o prazer, tornando-se receptiva a diversas manifestações de beleza. O texto poético pede ao seu leitor um olhar atento, uma mobilização intelectual e afectiva que pressupõe uma interligação contínua de emoções e desejos, juízos e considerações. A poesia induz a criança a tornar-se um leitor crítico, construtor de significados, não se contentando com as versões recebidas, questionando e transformando a realidade interior e exterior.

Na actividade “Arre Burrinho”, que deve o seu nome ao texto de origem popular com o mesmo nome, procura-se transmitir-se aos alunos a musicalidade, o ritmo e os múltiplos sentidos da poesia. Desta forma procura-se contribuir para o desenvolvimento da capacidade de identificação de semelhanças entre os sons das palavras, ajudando ao desenvolvimento da consciência fonológica. Numa segunda fase construir-se-á o poema, com ou sem uso de rimas.
Posteriormente o docente continuará o trabalho iniciado através de novas actividades (desenhos, pinturas, colagens, recortes, dramatizações, criação de histórias, associação das personagens com canções), ou mediante um trabalho mais funcional (textos que apresentam rima, identificando as palavras que rimam, sublinhando-as, substituindo-as por outras que também rimem e confiram sentido ao texto; o dizer por outras palavras, fazer corresponder expressões do texto ao seu significado, continuar o poema com novas expressões, dar outro título ao poema etc.). A leitura expressiva de textos poéticos deverá ter sempre lugar.

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